Matem o mensageiro.

 

Geraldo, garoto de seus quinze anos, matreiro, metido a esperto, trabalhava como office-boy desde os treze anos num escritório, sua mãe, para se livrar do moleque, lhe arrumara o emprego, entrava as oito, saía às dezessete, gostava de Punk-Rock e era virgem.

 

Geraldo morava em uma casa simples, dois quartos, um da mãe, outro dele, ambos pequenos, forro desabando e paredes mofadas, infiltração. No dele, um colchão e uma cômoda com tijolos a fazer de pés, no dela, uma cama velha e um pequeno armário, espelho pela metade, sujo.

 

Geraldo gostava de Marcele, menina bonita, quatorze anos, meiga, freqüentavam a mesma escola, sentava-se ao lado dele, ajudava com matemática, ela a ele, tinha dois irmão maiores e vivia com os pais duas ruas abaixo, rua asfaltada.

 

Geraldo ouvira falar de Mathias, marmanjo que rondava o bairro, vendia crack, olhava os carros no domingo defronte a igreja Quadrangular, recebia gorjeta, gastava naquilo que vendia, na venda, não tinha lucro, não viveria até os vinte.

 

Geraldo caminhava do serviço para casa, dezessete e quinze, a caminhada era leve, mas o calor de janeiro não, encontrou Gerônimo, garoto da rua, ouviu que Marcele fugira de casa, perto do meio-dia, com Mathias, mais detalhes, ninguém os tinha.

 

Geraldo correu, para onde, não sabia, correu sem se preocupar com mais nada, Marcele se fora, Mathias a roubara dele, as lágrimas escorriam e saltavam de seu rosto, iam de encontro ao solo, os dentes pressionavam o lábio inferior, o gosto de sangue, metálico, se fazia sentir.

Geraldo parou, Ronaldo, amigo de escola, sentava-se atrás de Marcele, dizia trazer um recado dela a ele, o coração gelou, o punho cerrou, o soco, certeiro, atingiu Ronaldo na têmpora, o corpo caiu inerte, o punho doía, o coração não.

 

Geraldo foi preso, mãe aos choros na delegacia, Gerônimo chorava também, olhar perdido, pensamentos ausentes, na cela ao lado, Mathias, preso noite passada, vendera crack a um policial, Marcele, em casa, chorava, perdera não um, mas dois, amigos.

Gerônimo, em seu quarto, dias depois, pensava nos conselhos do avô, pare de inventar estórias, dizia o avô, um dia isso ainda acaba mal.

Publicada pela primeira vez no Fatec10.

Uma resposta to “Matem o mensageiro.”

  1. reche Says:

    Boa Edgar, outro belo texto!… porém pense numa outra estória para o Saddam, com M ou N. Não importa.

    Um abraço,

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