Agnóstico?!

Gnose em grego significa conhecer/conhecimento. O prefixo a, em grego, é negação, assim agnóstico está relacionado a não-conhecimento ou, a impossibilidade de conhecer. Agnóstico é aquele para quem certas coisas são impossíveis de se conhecer.

Meus alunos, quando me perguntam sobre religião ou deus, freqüentemente ficam espantados quando me declaro agnóstico. Primeiro porque não sabem o que é ser agnóstico; segundo porque confundem ser agnóstico com ser ateu.

Teo, em grego é deus (não o deus judáico-cristão, mas qualquer divindade), o a vocês já sabem, assim, ateu é aquele para quem deus não existe.

Eu, sinceramente, não sou ateu pelo fato de achar que o ceticismo (base do ateísmo) é tão problemático quanto o dogmatismo (base do teísmo).

Rejeito a crença dogmática em deus. Afirmar a existência de deus (ou deuses) é algo que depende única e exclusivamente da fé (crença) de cada indivíduo. Em geral, a crença na divindade nos é imputada pela herança cultural e depois aceita e interiorizada por alguns mediante o argumento da fé.

Também o ateísmo não me seduz, pois ao negar a existência, o faz em detrimento da ausência de provas empíricas e, ao meu ver, isso implica que a prova da existência de deus (ou deuses) não existe até este momento, mas disso não decorre que tal prova não possa vir a existir no futuro.

Por conta disso, fico na ala dos agnósticos. Se deus existe, ou não, é uma questão que escapa à compreensão humana. E, portanto, discutir os atributos de deus em favor ou contra a sua existência é pura perda de tempo.

Se deus existe, é um ser superior (seja lá o que isso signifique). Enquanto ser superior, está fora do alcance das categorias de compreensão humana. Assim, deus não opera em termos humanos. Dizer que deus é pai, amor, rancor ou o Raul Seixas, é mera projeção de sentimentos e caracteríscas humanas em algo que não é humano.

Deus pode muito bem seu uma gigante ameba, mas isso não é projetar conceitos humanos?

Deus pode ser uma forma de energia. Conceito humano!

Deus é o tudo. Conceito humano.

Note que qualquer descrição sobre deus acaba no dilema de ser, quando muito, uma metáfora para as categorias humanas de pensar. Mas, se deus é algo não-humano, então está fora do nosso alcance. A razão não pode explicar deus. Nem a fé.

A fé em deus é algo complicado e, ao meu ver, tentar explicar deus pela fé é um verdadeiro tiro no pé, com o perdão da rima pobre. Pelo menos para os monoteístas…

A história da humanidade apresenta um rol de milhares de deuses… Yaveh, Rá, Shiva, Zeus, Tupã, Ísis… cada cultura tem os seus deuses e, de uma forma ou de outra, “legitímados” pela fé. Embora o mecanismo da fé seja igual para um cristão como para um xintoísta, o objeto de sua fé é completamente outro. A fé depõe de forma escandalosa contra a própria legitimação de deus em culturas monoteístas, pois sendo deus único, a fé (para os crentes, uma característica humana dada por deus) deveria nos conduzir todos ao mesmo deus.

Enquanto algum deus (para não negar o politeísmo) não dá as caras, eu fico aqui na minha condição de agnóstico, com uma skol gelada e um saco de biscoito de polvilho… só filosofando!

Auf wiedersehen

5 Respostas to “Agnóstico?!”

  1. Fabio Reche Says:

    Profundo, respeito a opinião e a crença de cada ser.
    Todos devem ter vindo do mesmo lugar e cabe a cada um acreditar se vamos para o mesmo lugar ou cada um para um lugar diferente.

    No mais, o respeito é o mais importante, para que tenhamos vida harmoniosa entre tantos credos e descredos do mundão!

    Tem polvilho aí?

  2. Wanderson Pereira Says:

    Para um bom comentário sobre a inexistência (ou sobre a incompreensão desta) seria necessário refutar as 5 vias tomistas (Tomaz de Aquino).
    A pouco famosa frase de Agostinho de Hipona “Todo ser que pensa existe. Penso, logo existo”, foi substituída por um silogismo capenga “Penso logo existo”. Saímos do postulado do ser que necessariamente nos leva a afirmar a existência de Deus (de modo compreensível!!!), para o postulado da dúvida, já que tudo seria reflexo do pensamento… (Aquilo que captamos pelos sentidos seria real?) É por isso que duvidamos de tudo, tatearíamos nas trevas de nosso limites. Sem preconceitos contra os Santos Católicos, a filosofia deles (Tomás e Agostinho) é melhor. Desculpe discordar, sou teísta. (Aliás, ateísmo e agnose são ramos de uma mesma árvore: a Gnose, pois é pensando que se chega a conclusão de ser agnostico!)

  3. NICKE Says:

    ser supremo existe sim, o vento existe? sim a mas ñ vemos, DEUS da mesma forma, so vimos sua OBRA como a natureza, isso é coisa humana? então diga quem fez a natureza se ñ DEUS, ELE é a razão do meu viver, esta é uma das provas, mim mostre coisa contrario?

  4. edmort Says:

    Nicke, o ônus da prova é de quem declara a existẽncia, não o contrário. Eu não preciso provar que deus, papai-noel e/ou medusa não existem, mas aqueles que os proclamam verdadeiro é que devem.

    Beijoenãomeliga!

  5. Fernando Says:

    Gostei do texto!
    Foi esclarecedor a diferença entre agnóstico e ateu.
    Também não acredito em dogmas. Apesar de minha esposa sempre me classificar como ateu, não nego a existência de Deus. Me é muito menos aceitável a inexistência de causa que qualquer outra tentativa de explicar a origem do universo, a criação humana, seja ela qual for (Deus, Big Bang, evolução ou criacionismo). Não vejo lógica em acreditar que simplesmente “aparecemos”, que os planetas “sabem” por onde devem ir, ou que hajam respostas “fáceis e prontas”, leia-se dogmas, para tais perguntas. Assim, até que se encontre melhor explicação, aceito a existência divina.
    Se nos aproximarmos de “fronteiras de conhecimento”, por exemplo, na física (minha área de formação), fica difícil acreditar em coincidências observando a precisão nos movimentos planetários, ou das estrelas/galáxias, e que as coisas se “encaixam” tão bem por mera “coincidência”, sem alguma origem planejada. “Deus não joga dados” – Einstein.
    Observando eventos do cotidiano, podemos até duvidar da existência Dele, mas acho que Sua ironia é inegável. (Ironia = inteligência + bom humor)
    Não pretendo mudar a visão de mundo de ninguém. Quero apenas trocar impressões pessoais sobre como podemos perceber a origem das coisas.
    Se possível, gostaria que você escrevesse sobre a teoria criacionista.
    Minha opinião a respeito é a seguinte: Sendo o relato do Gênese uma visão dogmática da origem do universo/mundo, e a teoria criacionista uma tentativa de explicar “cientificamente” tal visão dogmática, ela é uma teoria sem função, pois tenta explicar algo que não precisa de explicação, afinal, é um dogma. Se alguém acredita em tal dogma, ele não o questiona. Se alguém o questiona, ele não acredita em tal dogma. Resumidamente, esta é a idéia.

    Beijo e, se quiser, me liga. Hehehe.

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