Imperador?

Semana de provas, uma certa ociosidade no ar. Lá estou eu entretido com minhas caraminholas quando um aluno do 1o. semestre me interrompe para perguntar (sim, porque alunos de 1o. semestre ficam vagando feitos almas penadas pelos corredores da universidade, eles ainda não aprenderam que após uma prova ou é casa ou é bar!):

– ô profe, o que o sr. acha do adriano para de jogar bola?

– quem?

– o imperador!

– imperador? (cara de nada!)

– é profe, o que largou o futebol, o sr. sabe?!

– rapaz, futebol não é a minha praia…

– bom, então, ele decidiu parar de jogar bola! como pode?!

– qual o problema?

– ô loco profe, puta salário… o cara largou, fora o status… sei lá…

– certo ele!

– ô profe… cê tá brincando né?

– eu tenho cara de quem está brincando (cara de bravo!)

– não, é que, bom, sei lá… puta salário…

– o problema é o salário?

– ah profe, o cara conseguiu o sonho de todo mundo… ser astro do futebol…

– eu nunca sonhei com isso…

– ah, mas o profe é filósofo… outras paradas né…

– (cara de helloooo-u)

– então profe, acho que o cara pirou… drogas e tals… largou o futebol!

– puta salário!

– ééé profe… puta salário… e vai pagar multa ainda… eu não fazia isso!

– eu faria!

– ah profe… o sr. é cabeça… mas o adriano não podia largar!

– (cara de cabeça!) que fase…

Após esse alucinante episódio da minha vida acadêmica, pus-me a filosofiar (afinal sou um cara cabeça) sobre o assunto. Bom, eu nem sequer sabia exatamente quem era o tal imperador e os detalhes do acontecido, mas isso não vem ao caso. A sociedade se espanta se alguém decide deixar de lado um “puta salário” ou o status de astro “do que for”. E dai? E se o projeto de vida do cidadão é vender banana na estrada de Tapiraí? Deixa o peão ser feliz, porra!

Eu mesmo, quando decidi deixar minhas atividades profissionais no campo da informática e me dedicar exclusivamente à área acadêmica, também senti uns certos olhares de “ó o cara, pirou!”. Eu me sentia um herege, alguém marcado com a letra escarlate da vergonha social: deixou uma carreira promissora na informática para “dar aulas”! Só faltou alguém completar: “e um puta salário”!

A questão é: eu sou muito mais feliz “dando aula” que trabalhando das 8h às 18h programando sistemas ou implantando redes. Não deixei de amar a computação, apenas decidi ganhar o pão meu de cada dia de uma maneira diferente.

Assim, se o imperador que parar de jogar bola, tem todo o meu apoio, vai ser feliz, não importa por onde! 🙂

9 Respostas to “Imperador?”

  1. Rechones Says:

    “- puta salário!”

    Essa frase renderia uma vinhetinha, – puta salário!.

    Ah professor, concordo com o post, apesar de – puta salário!, acredito que a sociedade rotula muito as pessoas. Infelizmente, quando encontramos conhecidos por aí, muitos deles já perguntam de nosso emprego, querendo competir e dizer, olha eu tenho um – puta salário! e você não tem.

    Penso muito em ter outra profissão, mas falta ainda descobrir qual é. Enfim, – puta salário! e vamos tocando o barquinho.

  2. Tiago Gigli Says:

    A idéia tão estupida de que “um puta salário” é o fim para todos não é uma questão de escolha de objetivo, é só um fato social, um paradigma que todos perseguem sem sequer entender a razão pra isso.
    O pior é ver que isso faz com que tenhamos tanta gente estupida, incapacitada e desmotivada fazendo coisas diversas, como atender em um consultório. Não que eu seja contra ter o tal salário, mas persegui-lo acima da propria conciência de sí e o prazer de realizar-se fazendo algo que tenha talento e principalmente, faça parte da realização da sua missão pessoal, é, no mínimo, triste.

  3. Alan Junior, o aluno boleiro Says:

    O profe não está entendo pelo motivo que não ligou o nome a pessoa e um adriano a mais um adriano a menos não faz diferença na experiência pessoal do profe, mas ignora que isso seja um fato na experiência pessoal de outras pessoas.

    É meio assim tipo como se o linguarudo do Gene Simons saísse do KISS no auge dos anos 80 pra participar de reality show na TV…
    Ou se o Mussum, também no auge dos anos 80, entrasse no AA e virasse pastor da IURD (tinha iurd nos anos 80?)
    Ou se o Ultraman gigante, no auge dos anos ??? que ano passava essa porra?, pisasse nas criancinhas japonesas e… hum… isso ia ser legal….

    Sentiu a tensão véi. Agora conseguiu entender? Fala agora que dá o maior apoio, fala!!!

  4. edmort Says:

    Tensão? Ainda assim, eu dava apoio! Sentiu o poder, véi?

  5. Gorete Daspu Says:

    Antes um puta salário que um salário de puta.

  6. edmort Says:

    Quando eu penso no bar
    eu penso logo nas putas
    e quando eu penso no bar e nas putas
    eu precisooo de dinheiroooo
    dinheiro pra torrar…

    Velhas Virgens véi (ou diria, véia?)!

  7. dozero Says:

    Puta salário!! também foi o que me disseram quando recusei abraçar um cargo em São Paulo no mês passado.
    Gosto da minha vida do jeito que ela é, dinheiro é bom, mas ele não deve ser a meta, apenas uma consequencia. Ótimo post =)

  8. Cris (esposa do Milton) Says:

    Oi.. nao sei se vc se lembra de mim da casa do Andrew, mas tbém larguei a área da informática para dar aula. E estou feliz assim. E ouvi as mesmas coisas que você…. Nessas horas eu penso: Cada um que cuide da própria vida. Cada um é feliz do jeito que quiser!

  9. rafael gimenes Says:

    cara a vida é muito mais que tudo isso.
    vc quem decide e boa.

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