Criacionismo…

Me pediram para escrever sobre criacionismo… vamos lá:

Criacionismo tem a ver com aqueles e aquelas que defendem a ideia de que tudo o que existe, do universo ao homem, foi criado por uma ou mais entidades que, na falta de um nome melhor, denomina-se deus, ou deuses.

De modo geral, todos os povos, da antiguidade aos contemporâneos, possuem mitos de criação. Creditar a origem de tudo que nos cerca, e de nós mesmos, a alguma entidade metafísica é uma característica comum às diversas culturas, mas o comum para por ai, pois quando olhamos para como cada cultura descreve seu mito de criação, as coisas ficam meio nebulosas…

Nós, herdeiros da tradição judaico-cristã, aceitamos sem grandes ponderações os conceitos que nos foram legados. Paraíso, adão e eva, pecado original etc. Mas e outros povos? Vejamos:

Segundo a mitologia iorubá, no início dos tempos havia dois mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e Aiyê, que seria dos homens, feito apenas de caos e água. Por ordem de Olorum, o deus supremo, o orixá Oduduá veio à Terra trazendo uma cabaça com ingredientes especiais, entre eles a terra escura que jogaria sobre o oceano para garantir morada e sustento aos homens. Para a tradição religiosa chinesa, o caos inicial era como um ovo no qual entraram em equilíbrio os princípios opostos, yin e yang. Desse equilíbrio nasceu Pangu, gigante de cujo corpo se formou a água, a terra e o Sol. (http://super.abril.com.br/religiao/criacao-mundo-447670.shtml)

Bom, eu não vou levantar aqui todos os mitos de criação. Os exemplos acima já bastam para entender que cada povo, cada cultura, descreve a origem das coisas de forma totalmente condicionada por própria cultura e história.

Assim, pensando o contexto do povo hebreu e sua mitologia criacionista, a ideia de um único deus criador faz sentido visto tratar-se de um povo tribal, com uma rígida hierarquia social. Também faz sentido um deus masculino, mandão e bravo, visto tratar-se de uma sociedade patriarcal. O mesmo não acontece com os Celtas, cuja divindade é feminina, visto que nas sociedades Celtas as mulheres gozavam de melhor reconhecimento.

A grande questão que nos vem neste momento é: qual é o mito correto? Nenhum é a melhor resposta. Aliás, aquilo que uma cultura considera religião, outra considera mito e vice-versa. Os deuses gregos são para os crentes de fé judaico-cristã meras alegorias, assim como Javé e Jesus não passam de mitos para os hindus… compreendeu, né?!

Desnecessário dizer que para um ateu como eu, tudo não passa de alegoria. Mas para quem foi criado numa cultura religiosa X ou Y, incorporar seus mitos de criação faz parte do “catecismo”. E tais mitos não são questionados obviamente, pois a religião estabelece dogmas. Pouco importa o que as outras culturas tem a dizer sobre seus deuses e mitos, menos ainda a ciência com suas observações e experimentos.

Por mais estranho que pareça Adão e Eva, cristãos dificilmente abnegarão de seus mitos. Podem no máximo não levar a interpretação ao pé-da-letra, mas ainda assim defenderão a ideia de um deus que “cospe na terra, modela o barro e assopra o bonequinho”, mesmo que isso venha numa roupagem mais moderninha como o design inteligente.

Eu não vou nem levantar aqui as contradições que o mito judaico-cristão de Adão e Eva apresenta. São tantas que se eu insistir muito, logo aparece uma horda de tochas em punho para queimar o herege que vos escreve…

Em suma, os criacionistas tem como argumento os seus mitos de criação. Claro, com já disse acima, que cada um defende o “seu mito” como verdade suprema…

A ciência também tem seus mitos. O Big Bang é uma teoria. Parte de pressupostos científicos que podem ser medidos em certos limites. O mesmo eu posso dizer do Evolucionismo. Eu prefiro os mitos científicos e vivo bem com a ideia da grande sopa inicial e da seleção natural. Sabe por que? Porque os mitos científicos conseguem abandonar suas teorias tacanhas quando novos dados ou fatos se apresentam. As teorias científicas incorporam o novo e deixam a porta sempre aberta a novas especulações. As religiões, por sua vez, cristalizam-se, fecham-se e, mesmo diante de um mundo completamente novo, insistem em cerrar os olhos e acorrentar-se à imutabilidade de seus mitos. Uns chamam isso de “tradição”, eu chamo de “preguiça intelectual”!

Eu tenho muito mais coisa a dizer, mas o momento não me permite a fluidez da digitação… quem sabe em outro momento volto para falar mais sobre o criacionismo…

Por hoje é só!

Tags: , , , , , , , ,

11 Respostas to “Criacionismo…”

  1. Tiago Gigli Says:

    Excelente, especialmente a opção de preferir os mitos científicos porque estes adaptam-se as novas descobertas enquanto a religião jamais muda.

  2. Michelson Borges Says:

    Abandonei a ideia da macroevolução e o naturalismo filosófico quando estudava no curso técnico de química. Sempre fui amante da ciência e, por isso, naturalmente cético. Quando soube que o darwinismo tinha graves insuficiências epistêmicas, passei a estudar o assunto mais a fundo. Deparei-me com o argumento da complexidade irredutível, de Michael Behe, e com a tremenda dificuldade que o darwinismo tem em explicar a origem da informação complexa e específica. De onde surgiu a informação genética necessária para fazer funcionar a primeira célula? De onde proveio o acréscimo de informação necessária para dar origem a novos planos corporais e às melhorias biológicas? O passo seguinte foi buscar um modelo que me fornecesse respostas ao enigma do código sem o codificador, do design sem o designer, da informação sem a fonte de informações. À semelhança do maior ateu do século vinte, Anthony Flew, fiquei aturdido com a complexidade física do Universo e com a complexidade integrada da vida, constatações que o fizeram escrever o livro Um Ateu Garante: Deus Existe. Nessas pesquisas, descobri que o criacionismo é a associação coerente e sustentável entre conhecimento científico e teologia bíblica. E me descobri em boa companhia ao saber que grandes cientistas como Galileu, Copérnico, Newton, Pascal, Pasteur e outros não viam contradição entre a ciência experimental e a teologia judaico-cristã. Usei meu ceticismo, fui atrás das evidências – levassem aonde levassem – e me surpreendi com uma interpretação simples e não anticientífica para as origens. Resultado? Tornei-me criacionista.

  3. edmort Says:

    Michelson Borges, diga ai:

    Quem criou o criador? Quem criou deus?

    Se deus pode “não ser criado”, por que raios o restante precisa de um criador?

    Continuamos na fé em um mito, o de que todas as coisas precisam de uma causa original… (exceto deus, para os crentes!)

    []’s

  4. Fernando Says:

    Michelson Borges, por favor me diga, você acha de Galileu QUASE foi pra fogueira da Inquisição por “não ver contradição entre a ciência experimental e a teologia judaico-cristã”?
    Você acha que Nicolau Copérnico, padre do século XVI, iniciou sua obra com “Prefácio e Dedicatória ao Papa Paulo III”, tomando o máximo dos cuidados em classificar suas observações como HIPÓTESES, apesar das medidas, por “não ver contradição entre a ciência experimental e a teologia judaico-cristã”? Ele tinha muito MEDO de ser perseguido pela Inquisição, e com conhecimento de causa, pois era membro da Igreja. Tinha medo pois sabia que eram contraditórios o conhecimento dogmático da época e a observação mais refinada da realidade.
    Não entendo como quer criar essa tal ausência de contradição com tais exemplos. Por favor, esclareça.

  5. Fernando Says:

    Antes de tudo, gostaria de agradecer pelo texto.
    Lamento se faço isso depois de questionar outro comentário, não sei se há mal nisso. Blogs são uma novidade para mim e desconheço as “normas de conduta”, caso existam.
    Não deixei de reparar numa “pequena” mudança: em 30/05/2008 se declarou agnóstico; em 26/11/2009 se declarou ateu. Será 2010 o ano da conversão? (Brincadeira…heheheh.)
    Sobre o texto: gostei da diferenciação entre o conhecimento (mito)religioso e o conhecimento (mito) científico. O pouco que sei sobre mito é que ele mistura verdades e lendas para tentar explicar o mundo que percebemos. Isso é correto?

  6. edmort Says:

    Fernando, as vezes uso ateu por ser mais compreensível. O termo agnóstico causa confusão na sua interpretação. O fato é que eu não creio em divindades antropomórficas, conscientes e desejosas de controlar a vida dos outros (por isso ateu). Se há alguma coisa superior, não é um ser tal qual a nossa limitada mente humana consegue projetar (e nesse sentido, o agnóstico, não é possível compreender!). Os teóricos subdividem o ateísmo em fraco e forte devido, respectivamente, a possibilidade deste resultar do agnostícismo (meu caso) ou do ceticismo.

    Quanto ao seu comentário ao Michelson, fique à vontade, o blog é meu e aqui mando eu! A propósito, muito boa a sua colocação, vejamos se o Michelson se presta a responder.

    Abraço.

  7. rafael gimenes Says:

    Interessante, quando posto no twitter que ia escrever sobre tal procurei me informar.
    Vamos criar projetos, tux ribeirão.

  8. REMBRANDT DONIZETTE CASTRO Says:

    Gostaria de fazer duas observações ao Fernando: o prefácio do livro de Copérnico não é de Copérnico, mas de um editor mal-intencionado, chamdo Andreas Hosiander. Se o prefácio tivesse sido elaborado pelo próprio Copérnico, talvez até o papa cresce no livro, haja vista ter o mesmo encomendado o estudo ao polonês.
    Galileu apenas descreveu o mundo real; nunca afirmou ver contradição entre ciência experimental e fé em Deus.

  9. REMBRANDT DONIZETTE CASTRO Says:

    gostaria de responder ao Edmort
    Se o Universo foi resultado de acaso, Deus não existe…; se não foi acaso, foi planejamento; se foi planejado, foi planejado por Alguém, ainda que este Alguém seja imcompreensível. Humildemente, digo não crer em outro caminho que a lógica possa seguir.
    Gostaria de dizer que é ótima esta troca de idéias. Para se chegar à verdade, é essencial convivermos com argumentos contrários. Gostaria de agradecer ao Michelson, ao Edmort e ao Fernando

  10. Fernando Says:

    Boa noite, Edmorte e Rembrandt!
    Estive verificando a história de Copérnico e as alterações que o teólogo luterano Andreas Osiander fez no livro Das revoluções das esferas celestes. Alterações feitas sem o conhecimento de Copérnico. Foi uma pesquisa interessante. Uma das alterações feitas foi a inclusão do termo “hipótese”. Apesar disso, o medo de ser perseguido pela Igreja (ou pelo povo) era de Copérnico mesmo. Tamanho foi o cuidado em se resguardar de ataques que ele guardou por 13 anos o Das revoluções até a primeira publicação.
    Sobre Galileu: o “apenas” foi ótimo! Foi “apenas” fácil o que ele fez…
    Copio aqui uma parte da confissão que ele foi obrigado a redigir, assinar e ler em público:
    “Eu, Galileu Galilei, filho de Vicenzo Galilei de Florença, com 70 anos de idade, julgado pessoalmente por esta corte, e ajoelhado diante de vós, Eminentíssimos e Reverendíssimos Cardeais, Inquisidores-Gerais de toda a República Cristã contra a devassidão da heresia, tendo sob meus olhos os Santíssimos Evangelhos, e colocando sobre estes as minhas próprias mãos, juro que sempre cri, que creio agora, e que com a ajuda de Deus crerei sempre no futuro, em tudo que a Igreja Católica e Apostólica afirma, prega e ensina.
    Mas visto que, após receber a admonição da Igreja Católica, abandono inteiramente a opinião falsa segundo a qual o Sol é o centro do universo e imóvel, e a Terra não é o centro do universo e que ela se move, a dita falsa doutrina, na qual não devo crer, defender ou ensinar sob qualquer forma, seja verbalmente ou por escrito, e após ser notificado que tal doutrina é contrária aos escritos sagrados, tendo escrito e publicado um livro que trata da doutrina condenada no qual argumento com bastante eficácia a seu favor sem chegar a qualquer solução: fui julgado veementemente suspeito de heresia, isto é, de ter afirmado e acreditado que o Sol é o centro do universo e imóvel, e que a Terra não é o centro do mesmo, e que por sua vez, se move.”
    Boa noite, Edmorte e Rembrandt!
    Estive verificando a história de Copérnico e as alterações que o teólogo luterano Andreas Osiander fez no livro Das revoluções das esferas celestes. Alterações feitas sem o conhecimento de Copérnico. Foi uma pesquisa interessante. Uma das alterações feitas foi a inclusão do termo “hipótese”. Apesar disso, o medo de ser perseguido pela Igreja (ou pelo povo) era de Copérnico mesmo. Tamanho foi o cuidado em se resguardar de ataques que ele guardou por 13 anos o Das revoluções até a primeira publicação.
    Sobre Galileu: o “apenas” foi ótimo! Foi “apenas” fácil o que ele fez…
    Copio aqui uma parte da confissão que ele foi obrigado a redigir, assinar e ler em público:
    “Eu, Galileu Galilei, filho de Vicenzo Galilei de Florença, com 70 anos de idade, julgado pessoalmente por esta corte, e ajoelhado diante de vós, Eminentíssimos e Reverendíssimos Cardeais, Inquisidores-Gerais de toda a República Cristã contra a devassidão da heresia, tendo sob meus olhos os Santíssimos Evangelhos, e colocando sobre estes as minhas próprias mãos, juro que sempre cri, que creio agora, e que com a ajuda de Deus crerei sempre no futuro, em tudo que a Igreja Católica e Apostólica afirma, prega e ensina.
    Mas visto que, após receber a admonição da Igreja Católica, abandono inteiramente a opinião falsa segundo a qual o Sol é o centro do universo e imóvel, e a Terra não é o centro do universo e que ela se move, a dita falsa doutrina, na qual não devo crer, defender ou ensinar sob qualquer forma, seja verbalmente ou por escrito, e após ser notificado que tal doutrina é contrária aos escritos sagrados, tendo escrito e publicado um livro que trata da doutrina condenada no qual argumento com bastante eficácia a seu favor sem chegar a qualquer solução: fui julgado veementemente suspeito de heresia, isto é, de ter afirmado e acreditado que o Sol é o centro do universo e imóvel, e que a Terra não é o centro do mesmo, e que por sua vez, se move.”
    A questão aqui é: Como assim não há contradição entre a ciência (experimental ou teórica) e a teologia judaico-cristão? Citando exemplos como os de Copérnico e Galileu ainda!! Ambos acreditavam em Deus, mas não nos princípios/dogmas/preconceitos que defendiam ser a Terra o centro imóvel do Universo.
    Não consigo entender como se defende o Criacionismo como teoria “científica”, primeiramente por ela não prever resultados (até onde eu conheço). Em segundo lugar, considero a visão do Gênese como dogmática. Dogma, por definição, é uma verdade que não precisa (ou não tem) explicação. Assim sendo, o Criacionismo é uma teoria sem função, pois tenta explicar “cientificamente” algo que não necessita de explicação. Pra quem acredita no dogma da criação, não precisa de explicação nem confirmação. Pra quem precisa de explicação ou confirmação, não acredita no dogma da criação e, consequentemente, não precisa do Criacionismo.
    Desculpem o tamanho do texto.
    Mais uma vez, boa noite!

  11. REMBRANDT DONIZETTE CASTRO Says:

    PARA O DEBATE AVANÇAR, PRECISAMOS DE HIPÓTESES. EXISTEM VÁRIAS PERGUNTAS NÃO RESPONDIDAS. AS HIPÓTESES SÃO BEM-VINDAS PARA ENRIQUECER QUEM PROCURA A VERDADE. EX DE HIPÓTESE: ANTES DO BIG BANG, O QUE HAVIA? UMA FORÇA
    QUE PROVOCOU A EXPLOSÃO OU EXPANSÃO DA MATÉRIA INICIAL; A PRÓPRIA MATÉRIA INICIAL. A FORÇA, EU ESPECULO, É DEUS, QUE EXISTIA DESDE TODA A ETERNIDADE; A MATÉRIA FOI CRIADA POR ELE E, EM ALGUM PONTO NO TEMPO, EXPLODIU OU SE EXPANDIU, SENDO CRIADA A LUZ, PARA QUE A EXPLOSÃO OU EXPANSÃO FOSSE VISÍVEL(FAÇA-SE A LUZ)
    OUTRA HIPÓTESE: POR QUE DEUS USOU UMA LINGUAGEM SIMPLES NO GENESIS? RESPOSTA:1- ELE QUERIA RESSALTAR ASPECTOS HUMANOS, POIS FALAVA NAS RELAÇÕES HOMEM-DEUS, HOMEM-VIDA. ELE NÃO TINHA INTERESSE EM DAR ÊNFASE A ASPECTOS CIENTÍFICOS, O QUE, ALIÁS, SERIA BIZARRO PARA ÉPOCAS PASSADAS.
    2- ELE QUERIA QUE O HOMEM EXPLORASSE O MUNDO EM QUE VIVE, APRENDESSE POR SI. ELE SABIA QUE ISTO PORIA EM XEQUE, PARA MUITAS PESSOAS, A CRENÇA NELE, MAS SABIA TAMBÉM QUE MUITAS ENCONTRARIAM PORTAS QUE LEVASSEM A ELE.
    …SÃO HIPÓTESES. CERTAS OU NÃO, ENRIQUECEM O DEBATE, POIS PARAMOS DE FALAR SOBRE ARGUMENTOS PASSADOS E REPASSADOS EXAUSTIVAMENTE. PRECISAMOS DE NOVAS IDÉIAS.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s


%d blogueiros gostam disto: