(Senta, que o texto é longo!)
Vejo nos noticiários que uma das duas das maiores instituições financeiras dos EUA, prestes a quebrar por má gestão financeira, recebe milhões de dólares do governo norte-americano numa “operação de salvamento”. Bom… e todo aquela papo neo-liberal de “estado mínimo”, de não-intervenção do Estado nas atividades do Mercado? Ou seja, regular o Mercado o Estado não pode, mas salvá-lo da banca-rota com dinheiro público pode! Humm…
O velho Marx sonhou com um mundo diferente. E, deixando de lado as más interpretações de sua obra, tais como a deturpação dos conceitos de Socialismo e Comunismo, proferidos sempre por pessoas que, na sua grande maioria, jamais leram Marx, mas que enchem a boca para dizer barbaridades. A verdade é que o velho Marx sabia das coisas. Viu no sistema capitalista mais que uma mera análise do modo de produção que emergiu da burguesia, em oposição ao sistema feudal, e que se consolidou na modernidade. Marx viu que, desculpem o baixo calão, “ia dar merda”.
Ok. Somos capitalistas. Não há remédio. Não há alternativa. E, daqui em diante, abro mão do estilo acadêmico, FODEMOS o planeta, e cada um de seus habitantes, a cada segundo. Não tem outro jeito.
A fórmula é simples: para um ter ganhar, muitos tem que perder. Para que seja possível uma fortuna pessoal como a do Bill Gates, milhões precisam morrer de fome, afinal de contas, dinheiro é finito. Se um acumula muito aqui, muitos ficam sem ali. Isso é capitalismo.
Até aqui, nenhuma novidade. E eu me pergunto: e o kiko?
Pessoas morrem de fome todos os dias em algum lugar do planeta. Faz parte do sistema. Eu trabalho feito uma mula de carga (pura metáfora capitalista, mais moleza que o meu trabalho, só testador de colchão), ganho meus trocados e consumo tudo aquilo que o sistema me empurra. Que me importa que uns pobres coitados morram de fome. Como diria o Abreu, antes eles do que eu!
Sim, somos individualistas. Na hora do pega-pra-capar, não existe família, amigos nem o caralho-a-quatro, é cada um por si e se foda o resto. Por que eu vou perder pra outro ganhar? Ganho eu!
O planeta está uma bosta? Poluição, efeito-estufa, desmatamento? Foda-se, eu quero meu iPod, meu iPhone, meu MacBook Air. Custe o que custar, eu quero é ter tudo o que o sistema podem me oferecer (ou o que o meu salário pode comprar)…
Vamos lá. Admita: você até tem dó das baleias, dos golfinhos e das criancinhas cadavéricas de Biafra, mas no fundo você só se preocupa mesmo com uma coisa: o seu rabo!
É, tá certo! Todo mundo é assim, por que você e eu seriamos diferentes? Que culpa temos nós? Foda-se quem não tem acesso à internet. Inclusão digital uma ova! Isso só serve para congestionar os links e colocar um monte de lammers onde nunca deveriam estar. Fora da nossa rede seus animais!
Quanto mais capitalista, melhor. Mais produtos legais. Traquitanas tecnológicas que reforçam a idéia que eu devo consumir tudo, mesmo que o meu salário não baste, empreste do banco, pague juros, perca a casa, foda-se, mas compre.
Afinal, qual o problema disso? Tá, o mundo vai acabar, o planeta vai superaquecer e fuder com todo mundo. Grande bosta, provavelmente isso acontecerá depois que eu morrer. Porque certamente eu vou morrer antes que o mundo acabe. De câncer. Afinal, comendo tanta merda industrializada, tanta merda com agrotóxicos, tanta merda com merda que o sistema injeta, só dá pra vislumbrar a morte mesmo.
Ó mundo, vasto mundo… não há solução. Te venderam promessas de salvação e um paraíso? Se fodeu! Deus é um shopping-center e o paraíso é um carnê das casas Bahia!
Ó mundo, vasto mundo… estamos fudidos… só aguardando o fim. Mas até lá, vamos trocar de celular, de notebook, comer muita batata-frita, beber muita cerveja, gastar mais do que ganhamos, e continuar nos lixando para os excluídos!
Essa é a verdade mundo, vasto mundo…mas o duro mesmo… é quando a água bate no saco!
(até aqui o autor já perdera a sanidade… daqui em diante não hã… opa perai, foda-se… blaft! )
Eu preciso de uma cerveja… gelada. Foda-se a garganta inflamada. Vamos brindar o sistema que nos faz cagar e andar para tudo e para todos! Vamos glorificar nossa bestialidade humana nos entupindo de lúpulo e cevada fermentadas, o néctar dos deuses nórdicos, tradição milenar da antigüidade que hoje é apenas um produto. Uma coisa que a gente compra no supermercado. Coisa assim como tudo mais. Coisas… coisas… compre… consuma… gaste…
Caro leitor, se você chegou até aqui, bata palmas! Se você concorda com o que eu disse, bata palmas. Se não concorda, bata palmas. Se você bateu palmas, vá se tratar, você está pior do que eu…
Clap-Clap-Clap…