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Emos, uma persperctiva fora de foco…

05.agosto.2010

Olá pessoal!

Hoje o assunto é mais denso e a postagem pode ficar mais extensa que o habitual, prepare-se ou vá para o Google e tente outra coisa!

Geração perdida, o futuro do planeta está condenado pela falta de crédito nessas tribos atuais: os emos, vampiros românticos, coloridos etc.

Ok, sou um educador. Convivo diariamente com alunos e alunos do Ensino Médio e Ensino Superior. Essa mobilidade entre dois submundos escolares me permite apreciar com mais ponderação àquilo que o senso comum pratica ou condena.

Mas antes de falar dessa geração de adolescentes depositária do infortúnio vindouro, voltemos no tempo…

Em 1985 eu era apenas um garoto de 12 anos, vivendo em meio à explosão do New Wave. Roupas alucinatemente coloridas, estampas e padrões quadriculado, xadrez, listrado etc. Gel com glitter, ombreiras e mais um pandemônio de opções estéticas características do New Wave. E eu odiava. Achava ridículo, feio e me recusava a vestir-me daquele jeito. Era um em um milhão. Minha praia era outra…

Metal. Calça rasgada, surrada, suja. Tênis estrupiado. Camisetas de bandas: tecido preto e estampa de capas de álbuns ou logotipos. Cabelo comprido, broches de caveira, pulseiras com metais etc. Eu era um marginal. Marginal no exato sentido da palavra. Estava à margem do convencional, e o convencional estava longe de ser unânime.

Pessoas mais velhas que eu também não gostavam do New Wave. O visual era chocantemente exagerado. A música era vazia tanto em conteúdo quanto em melodia dizia a geração anterior, acostumada ao clima de protesto politicamente engajado. Mas o New Wave era legal, estava na novela, nas passarelas, nos outdoors…

Já o pessoal do metal, punk, dark e afins era o prenúncio do apocalipse para o pessoal do New Wave. Geração maldita, não se vislumbrava futuro neles. Era uma época estranha. Rechaçado pelos contemporâneos coloridos e psicodélicos, desacreditados pelos mais velhos, minha tribo estava fadada a morrer (provavelmente numa cadeia ou presídio).

Ok, voltemos a 2010.

Emos, geração maldita. Futuro sombrio. Balela!

O mundo dos homens é uma constante assincronia entre gerações. O New Wave passou e o mundo girou. Os “metaleiros” cresceram, tornaram-se pais, advogados, médicas e, pasme, professores! O mundo sobreviveu às previsões apocalípticas das tribos mais velhas, pretensas donas da cultura, dos hábitos e do que é certo.

O universo Emo não me agrada. Assim como não me agradava a Tropicália. O mundo é assim, repleto de tribos, gostar de uma ou de outra é algo tão subjetivo que dificilmente será alvo de consenso.

Mesmo no mundo do metal, o que se faz hoje não me agrada muito. Eu cresci ouvindo deuses e suas bandas. Nada que veio depois dos áureos anos 80 me seduz. Korn, pra deixar meu amigo anacrônico Rafael Gimenes louco, é tão insípido quanto Restart, pois ambos não fazem parte do momento que eu vivi. Nem mesmo o Ozzy de hoje é mais o mesmo de 20 anos. Ozzy virou um vovozinho simpático que já teve até Reallity Show! Cadê aquele insano que mastigava morcegos? Foi-se…

Quem nasceu depois dessa conversão do Ozzy em vovozinho, pode até curtir o Ozzy, mas não sabe quem realmente o Ozzy foi! Só quem viveu aquela época conhece… (isso vale para mim, que até acho Beatles legalzinho, mas meus professores também me diziam: “Você ouve Beatles, mas não tem a menor noção de quem eles foram…”)

Somos seres inseridos no tempo e no espaço. O tempo de cada um deixa marcas que fossilizam-se em nossa personalidade e cada era, cada geração valoriza o seu registro temporal. É um fato inerente a vida humana!

Agora, vamos para o futuro (do passado). Eu era uma promessa de fracasso se levarmos em conta o prognóstico daquelas pessoas que viam na minha geração uma geração sem futuro, vazia. Pobres coitados, eles erraram. Cá estou eu, adulto, educador. Cá estou eu, realizando um futuro bastante diferente daquele profetizado pelos meus pares anos atrás. E, cá estou eu, profetizando que depois da minha geração o futuro será desastroso… ops, estava!

Meus alunos e alunas vivem outra época. Um tempo e um universo paralelo ao meu. Como educador, ou eu mergulho nesse universo, ou fico distante, incomunicável. Eu decidi mergulhar. E, para ser sincero, os tempos são outros, mas pouca coisa muda depois de um olhar mais atento…

Percebi que “eu fui dar mamãe, fui dar um serão extra com o patrão” de Dr. Silvana não é melhor que a capciosidade do funk carioca, só é diferente. Adolescentes gostam de sacanagem, e a música sempre reflete isso. Apenas os ritmos que embalam uma tribo ou outra é que muda. O mela-cueca de Brian Adams e o romantismo açucarado de sertanejos universitários é mais do mesmo, com uma roupagem diferente.

No cinema ocorre o mesmo. American Pie nada mais é que uma releitura atualizada para os adolescente de hoje das mesmas situações vistas em Porky’s, Picardias Estudantis e A Vingança dos Nerds. Eu sou muito mais Porky’s que American Pie, mas é porque eu fui adolescente em outra época. Os dilemas amorosos entre vampiros virgens, lobisomens depilados e menininhas bobocas não são muito diferentes de Garotas de Rosa Shocking e Namoradas de Aluguel… a linguagem é outra porque a tribo é outra, mas os dilemas são os mesmos.

Enfim, antes de sair por ai tacando o pau naquilo que é diferente de você, por mais que isso te incomode, daqui 20 anos haverá algo que os próprios desacreditados de hoje desacreditarão amanhã. E, daqui 100 anos, tudo isso será resumido num verbete qualquer de uma enciclopédia qualquer. Daqui 1000 anos será insignificante.

Eu não gosto do universo cultural dos Emos, mas consigo compreender a indignação desdes quando são desacreditados e avacalhados. Não gosto, mas sou tolerante, pois daqui 20 anos, serão os médicos, advogadas e, pasme, professores dos meus futuros filhos, estes sim, a geração maldita de daqui 20 anos, e sei lá eu qual será a denominação deles… mas o conflito é certo!

É isso.

Fim de semestre…

30.novembro.2009

Vida de professor cumpre ciclos… difícil dizer qual o mais emocionante mas dentre eles, com certeza, o fim de semestre é o mais cansativo. Sobretudo quando se trata do 2º semestre!

Nas últimas duas semanas tenho aplicado provas e avaliações. Tem aluno que até chora. Nessa época, coincidente com a presepada do natal, surgem tentativas de suborno pedagógico travestidas de mimos natalinos. Mas também há os alunos mais ousados, que já “chegam chegando”, perguntando: “o professor prefere um 8 ou 12 anos?”

É assombroso pensar que no fim das contas a única coisa que importa é a nota final e… tchau! De certa maneira, o processo de formação, seja no nível médio seja no superior, não visa o percurso, o aprendizado, mas tão somente o “passei?”.

Mea culpa, mea maxima culpa. Nós professores caímos no redemoinho da dinâmica pedagógica. A escola também é uma empresa. Clientes, produtos, serviços. A lógica é orientada ao final do processo, a aquisição de um pedaço de papel que dá o start a outros processos, sejam acadêmicos sejam profissionais. Eu sei disso. Tento fugir disso… tento.

Mas serei honesto, tem muito aluno que se preocupa. Muito aluno que busca algo além do mínimo necessário. O grande problema (se é que isso é um problema) é que tem mais, muito mais, alunos apenas flutuando ao sabor do vento. É ai que minha ideologia meu idealismo borbulha. Entra em ebolição ao contato com a fervilhante realidade do utilitárismo ao qual a escola está inserida.

Cago para a maioria dos teóricos que me entucharam no mestrado. Cago para os marxistas de plantão que não sabem mais que remoer velhas ideias que nunca tiveram lugar. O que menos se tem na Educação (sim, a com E!) é a ousadia de romper com as teias de aranha, Ooopaaa… sem com isso cair na gosma pegajosa do neoliberalismo… educação não é um imã, há que se ter uma 3ª via… quisera ter mais tempo para (re)pensar a Educação… mas o fim de semestre está ai, provas para corrigir, notas para lançar, exames, recuperações, planejamentos e mais um purrilhãos de coisa para fazer.

Talvez nas férias eu pare um pouco para pensar em como perverter (no melhor dos sentidos) a Educação sem que meus patrões percebam… quem sabe eu possa dar um sabor de verdade àquele ritual cotidiano regado a saliva e grafado a giz… quem sabe?!

No mais, gente amiga que acompanha estas mal digitadas linhas, o certo é que eu entre num recesso e escreva menos ainda que já escrevo neste famigerado blogue… talvez, e é só um talvez, no início do próximo semestre, um novo ciclo, eu volte animado e com muitas novidades. Até lá. quem sabe onde me encontrar, me chame para beber e “blogar” cara-a-cara num desses bares da vida… e quem não sabe, bom… c´est la vie!

É de morte.

ENEM, ENADE e o saco na lua…

22.setembro.2009

Duas siglas andam me enchendo o saco ultimamente. ENEM e ENADE, um avalia os alunos de ensino médio e o outro os do ensino superior. Preocupadas com os resultados nos tais exames, as instituições nas quais trabalho andam a inverter o sentido da educação…

De um lado a orientação para elaborar provas, questões e atividades nos modelos do ENEM/ENADE. Vamos treinar os alunos para reconhecer o estilo de questões para obter um melhor rendimento. Até regra de três eu ando ensinando, como forma de reconhecer que não é preciso conhecer o assunto, basta “sacar” o que a questão pede e aplicar a regra de três como método infalível de obtenção de acertos…

Tá, eu sou professor… eu sou o cara na sala de aula, não sou gestor. Gestores querem resultados, que viram matrículas, que viram dinheiro… sim, o dinheiro que paga o meu salário. Eu deveria estar em consonância com os esforços para preparar nossos alunos e alunas para os exames nacionais… afinal, o objetivo último da educação é grarantir bons resultados no momento de mensurar o que um aluno de ensino médio aprendeu em 3 anos e o que o aluno de faculdade aprendeu em 3, 4 ou 5 anos… e mensurar isso em um único dia!

Eu posso estar errado, mas alguma coisa está errada. É… devo ser eu o errado. Avaliação escolar é um dos temas mais complexos, embora todo mundo, educador ou não, tenha uma opinião sobre o assunto. Opiniões das mais retrógadas às mais vanguardistas, o fato é que avaliar é tão subjetivo que a proposta de um exame nacional por si só já é surreal.

Escolas públicas e privadas, nos âmbitos do ensino médio e superior, gozam de inúmeros paradoxos. O quesito qualidade sofre uma inversão drástica quando se compara o ensino público de nível superior ao privado. O mesmo acontece quando se faz a comparação entre o ensino público de nível médio ao privado. Realidades opostas pois, em algum momento, o produto de uma se torna o público da outra.

E as disparidades regionais? Exames nacionais encaram os alunos como abstrações. “O Aluno” é uma entidade abstrata e seu desempenho é mensurado, avaliado, balizado a partir dessa abstração. Os resultados, nesse sentido, são tão abstratos quanto. Vira tudo média… alunos são todos iguais, não importa a região, condições sócio-econômicas, estrutura familiar e outros detalhes bobos… todos devem estar enquadrados no modelão “aluno”. Professores idem. Outra abstração…

As instituições que podem, correm para se adequar às regras dos exames e “produzir” resultados que as coloquem nas melhores posições. Afinal o mundo é dominado pelo sistema e o sistema “no perdona”… e para garantir o meu dinheirinho no fim do mês, eu me prostituo… dou aula de preparação para ENEM, ENADE e o que mais vier por ai… afinal eu sou multiuso… filósofo, letrado, computeiro e conhecedor de muitas facetas do conhecimento humano, eu sou o cara ideal para “alumiar” os “sem luz” abstratos que se convertem em porcentagens… e “alumio” sem dó.

Eu não concordo com ENEMs e ENADEs… mas como diz a música dos Velhas Virgens:

eu não preciso de muito dinheiro mas preciso muito de dinheiro pra torrar… pra torrar…

e assim vou vendendo minha dignidade a preço de banana, pois o mercado tá cheio. Mas isso não me impede de ficar puto com a situação. E eu fico puto… muito puto!

Se por um lado “eles” podem ditar as regras e impor modelos e exames, por outro, dentro da sala de aula, sou EU quem manda… eu faço o que “eles” querem, mas do meu jeito, ao meu modo e, como diria Raul, “dando os toques”!

Beijomeliga!