Eu tô sentindo que a galera anda entendiada
Não tô ouvindo nada, não tô dando risada
E aê, qual é? Vamô lá, moçada!
Vamô mexe, vamô dá uma agitada!
Roger Moreira, Ultraje a Rigor
Eu tô sentindo que a galera anda entendiada
Não tô ouvindo nada, não tô dando risada
E aê, qual é? Vamô lá, moçada!
Vamô mexe, vamô dá uma agitada!
Roger Moreira, Ultraje a Rigor
Fones de ouvido. De todas as cores. Todos plugados nas cabeças. O metrô de Porto Alegre, que não é metrô, é trem… Trensurb! Nos trens de Porto Alegre as pessoas vão e vem todas imersas no seu universo musical. Ninguém se olha, ninguém se vê e ninguém, muito menos, se ouve. Eu, o turista, com seu típico olhar, vejo a todos. Centenas de pessoas que nunca tinha visto, centenas de pessoas que nunca verei novamente… Mas não era sobre isso que eu queria escrever.
O amor de sua vida não está num trem em Porto Alegre, que de alegre não tem lá muita coisa. Porto Alegre é, pelo menos nos lugares que percorri, uma cidade mal cuidada. Prédios feios, sujos. Calçadas despedaçadas. Mas é pitoresca, esse ar de abandono, de descuido dá a Porto Alegre um charme marginal… mas quem sou eu, um turista de um dia e meio em Porto Alegre, para descrevê-la? Voltemos ao título…
O amor de sua vida deve estar por ai, mas não num trem em Porto Alegre. Pessoas vem e vão, de trem, metrô, carro e a pé. Pessoas se cruzam, se vêem, se olham, se notam, se perdem, se esquecem, se encontram, se reencontram… pessoas se, se, se… Mas não vai ser aqui no metrô, trem, de Porto Alegre que pessoas se, se, se… aqui no trem, que toda hora eu chamo de metrô, as pessoas apenas ouvem-se a si mesmas em suas playlists…
O amor de sua vida está ai, do seu lado, mesmo que seja num veículo ferroviário numa cidade do sul, numa capital que abriga um porto. O amor de sua vida é alguém que você vê, olha, ouve, nota, encontra, reencontra todos os dias… é alguém que está perto. Seja em Porto Alegre, São Paulo ou Manaus, o amor de sua vida está ai…
Eu não escrevo isso por experiência… Sei que o amor de minha vida não está aqui no aeroporto de Porto Alegre. Neste terminal de embarque há pessoas que, indo e vindo, apenas passam… a mulher que me olha sentada duas filas de bancos à frente, imaginando o quê eu escrevo (e o que eu ouço, pois sim, eu também estou com um fone de ouvido), não é o amor da minha vida… ela está sem fones de ouvido, turista!
O amor da minha vida, e o da sua também, esta ai. Olhe! Aprenda a olhar… ah, e tire os fones de ouvido, para que o amor da sua vida não ache que você está só de passagem!
🙂
Porto Alegre, 22 de março de 2012.
Tempo, essa incógnita!
A Física te explica, mas não te dá significado.
A vã filosofia sabe de ti e não sabe de ti, ao mesmo tempo!
Tempo!
Tempo que dura, que flui, que passa, que não passa…
Duas horas na sala de aula, duas horas nos braços da mulher amada,
Duas horas nunca são o mesmo tempo nem ao mesmo tempo.
Tempo, rio que não se atravessa duas vezes.
Tempo, aquele eterno intervalo espacial entre momentos
Momentos em que esqueço do tempo…
Boa noite 😉
É, eu sei… você anda meio abandonado! Culpa do twitter… ideias surgem, viram 140 caracteres e desaparecem antes que eu consiga fazer o login em você! Talvez seja culpa do doutorado. Cada vez que penso em escrever sobre alguma bobagem qualquer, me bate um sentimento de perda de tempo… afinal o doutorado é (?) mais importante. No fundo, mea culpa, a culpa é minha, sou um ser humano! Mas hoje eu vim aqui me redimir… querido blog.
Fui provocado pelo meu irmão a escrever sobre How powerful are we?
É, veio assim mesmo, em inglês. Quão poderosos nós somos? Bom, eu sou um pessimista moderado e talvez eu comece dizendo que não, não somos! Mas não vou me precipitar. Cartesianamente, vamos dividir essa questão em partes: O que é ser poderoso? Segundo o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, poderoso pode significar
Vemos que nos casos 1, 4 e 5, poderoso está associado às relações poder entre pessoas e/ou coisas. Já nos casos 2 e 3 poder está associado a forças ou energias próprias. Assim, retomando a questão inicial, no sentido semântico, podemos dizer com certeza que sim, somos poderosos. Todos nós, em algum nível, exercemos poder ou domínio sobre outras pessoas ou coisas. Relações familiares, amizades, círculos sociais, trabalho, escola etc. Todos exemplos de esferas nas quais o poder se manifesta e nas quais somos, em alguma medida, poderosos. A vida em sociedade é um arranjo de poderes e, nesse sentido, enquanto seres sociais, somos poderosos. A questão fulcral, o quão poderosos somos?, encontra sua resposta em múltiplas dimensões, vejamos:
Na dimensão social de nossas vidas, fica claro que somos poderosos. O quão poderosos nós somos depende de circunstâncias e dos padrões que a própria sociedade, dinamicamente, estabelece. Mas você deve se lembrar que eu sou um pessimista moderado. Poder é ilusório. Transitório talvez seja um termo melhor, poder é transitório. Ser poderoso é nossa forma de sobreviver.
Metafisicamente falando, há quem acredite em um poder superior, um todo-poderoso. Nada mais simples, afinal se somos seres sociais condicionados a relações de poder, quando entramos no terreno da metafísica, esperamos que exista a mesma relação de poder e dominação naquilo que nos precede. E aqui surge uma faceta intrigante do poder. Estar sob o poder de outrém pode ser, pasme, poderoso.
Poderoso no sentido de do caso 3, pois a submissão tem um efeito poderoso sobre as pessoas. Sim, a submissão é poderosa. Submetemo-nos ao poder de outros muitas vezes pela segurança. Lembre-se que eu disse que ser poderoso é uma forma de sobreviver, mas é uma forma coletiva de sobreviver. É na relação poderoso-submisso que se encontra a sobrevivência. O que me conduz a minha afirmação-negação inicial: não, não somos poderosos. Estatisticamente falando, somos majoritariamente submissos à sociedade, à tecnologia, às divindades, à ciência… uma meia dúzia têm o poder, estão no topo. Mas ainda assim, essa meia dúzia de poderosos vive na ilusão.
Não somos poderosos, somos medrosos. O medo, esse sim, nos leva a dominar ou ser dominados. Simples. Medo da morte. Medo do fim. Medo do desconhecido. É o medo o motor da evolução do ser humano. Um reles organismo microscópico pode nos levar à morte, contra ele inventamos o poder da ciência, da medicina. Uma chuva torrencial pode causar inúmeras mortes, contra ela inventamos deuses e planos divinos. Escolher por onde ir, o que comer, onde dormir pode nos levar a morte num penhasco, numa erva venenosa, numa cova de ursos… e contra tudo isso inventamos os lideres, deixamos que eles escolham.
Quão poderosos nos somos? Zero. Somos pó de estrelas e pó de estrelas seremos!
😉
Edmorte!
O título deste post me foi provocado pelo meu amigo rechones há muito tempo… muito tempo em termos de internet pode ter sido ontem à tarde, semana passada ou 5 meses atrás… tempo é relativo, psicológico e, como dizem as mulheres, cruel!
Meu primeiro vinil foi um disquinho de estórinhas do Sapo Edgar narrado pelo Silvio Santos. Meu segundo vinil eu não lembro. O primeiro vinil verdadeiramente meu, comprado com o meu dinheiro, foi do Thor, uma banda de Heavy Metal oitentista e relegada ao ostracismo. Depois desse, vieram algumas dezenas, uns cinquenta talvez.
Vinil era peça de museu, mas agora é vintage. Na europa encontrei vinil de bandas recentes, de álbuns recentes, com preços indecentes frente à bagatela do CD… lá na europa vinil é cult. Impressionante como algo que, supostamente morto, ressurge com força em certos guetos culturais… guetos de elite, pois bancar a onda da volta ao vinil não é barato.
Para as novas gerações, vinil é cultura morta. Um deus morto. O digital é o novo deus. E ainda bem que novos deuses surgem… Zeus é vinil, Jesus é digital. E o que realmente me interessa é o que vem a seguir. Eu sempre estou na espectativa da próxima nova-velha-tecnologia que ainda não surgiu mas que já terá data para falecer. O DVD já era. BluRay nem tenho, nem comprei, o que vem a seguir será melhor. Dai eu compro, mesmo que seja a volta ao VHS…
Vinil é uma bosta. Risca, pega chiado, entorta no sol e ocupa muito espaço. CD é uma bosta. Risca, engasga, descasca e entorta no sol. Bom mesmo será quando o MP3 estiver dentro da cachola. Um chip biosintético acoplado ao cérebro. O MP3 toca dentro da sua cabeça. Nada de gadgets, iBostas e traquitanas que consomem bateria… a bateria é o BigMac que será queimado para alimentar o biochip. Delírios…
Vinil é legal, eu gosto. Mas eu sou um velho. Mas isso é relativo…
Na mesa ao lado da minha sentou-se um colega de labuta com um iPad… velharia, é um iPad 1.0… meu netbook philco de R$ 639,00 em 12x no Wal-Mart ri do iPad dele… Ele, ri do meu netbook… rimos todos.
Vinil me deu muitas alegrias. Fui muito feliz no embalo dos vinis! Mas também já desejei a morte acompanhado de um vinil. Já quis acabar com a angústia. O vinil não me salvou, mas esteve ali, juntinho, pronto a soluçar…
O cara do iPad foi embora. Fez o que fez rapidamente, pois o tempo é cruel. Tempo que mata a gente. Tempo que miraculosamente me sobra nesta manhã para escrever este mal digitado post.
Milhares de ideias me vem à cabeça… uma meia dúzia delas vira palavra concreta. Vinil foi uma que escapou ao turbilhão abstrato que condena minhas ideias ao meu limbo encefálico. Vinil sobreviveu no meu ideário…sobreviveu ao CD… tem seu lugar ao sol na sociedade do consumo… mas cuidado! Vinil no sol entorta.
Adios.
Aristóteles, um grande amigo das antigas, me ensinou muita coisa. Uma delas é a noção de Ato e Potência, explico.
Pense numa semente. Em ato a semente é o que ela é. Um grão mínimo. Mas nessa mesma semente há uma potência, ou potencial, uma parte oculta que está contida na semente, a árvore. Antes mesmo da semente ser plantada, já está dentro dela, em potência, uma árvore. Mesmo que essa semente nunca venha a ser plantada, ainda assim a potência está lá, aguardando as condições ideais para, nesse caso, germinar.
Pessoas são sementes. Nascemos pequeninos, feios, enrugados, banguelas, analfabetos e pelados. Em ato, um recém nascido nada pode compreender da linguagem dos outros humanos que o cercam, mas está lá, dentro daquela “carinha de joelho” a potência da fala.
Muito tem me incomodado certas críticas que se fazem aos jovens de hoje em dia. Olha-se o adolescente em ato, que por natureza é um ser desajustado, seus hormônios estão ainda em fase de calibração. O adolescente, com seus gostos, modas e manias é tido como banal e vazio. Vazio? O adolescente, em ato, é pura potência. É um adulto raspando a casca que o separa resto do mundo, para mudar de metáfora.
Eu não sou mais jovem, mas ainda não me esqueci das palavras do velho Aristóteles, que um dia já foi adolescente também. Será que o jovem Aristóteles em ato adolescente demonstrava a potência filosófica lá contida? Duvido.
Assim, antes de sair por ai criticando essa molecada colorida de hoje em dia, lembre-se das críticas que você ouviu quando ainda era ovo, semente ou adolescente. Lembre-se daqueles adultos chatos que só esculachavam suas ideias, suas roupas, suas música. Lembrou? Agora vá ao espelho e se olhe, pois você hoje é um deles.
É isso!
Certa vez, na madrugada, zapeando entre os canais da TV aberta, peguei um trecho de uma série sobre uma família que administrava um funerária. Assisti o restante do episódio e achei interessante, mas não guardei o nome da série e, entre a correria do dia-a-dia, me esqueci dela. Me esqueci até o dia que minha amiga* Larissa Herbst (@larissaherbst) postou algo sobre a série em questão: Six Feet Under. Como eu e Larissa temos gostos em comum no que se refere a séries (Battlestar Galactica, Dexter, Big Bang Theory e Lost, claro.) resolvi conferir.
Eu ainda estou na 2ª temporada, mas acho que já posso dizer algo. Six Feet Under é densa, coisa que para alguém como eu, com formação em Filosofia, é um grato presente. O fato de a série mostrar o cotidiano de uma família californiana que administra uma funerária pode, inicialmente, sugerir que a série trata sobre a morte. Ledo engano. A série usa a morte de pessoas e os rituais fúnebres que se desenrolam no espaço da funerária apenas como pretexto para discutir a vida.
Eu não vou falar aqui sobre os episódios em si, até porque como eu já disse, ainda estou na 2ª de cinco temporadas. O que eu quero abordar nesta postagem, que pode ficar longa já que estou sem acesso a internet enquanto escrevo (por conta duma falha da NET, thanks!). Bom, chega de divagação…
Quando a morte se inicia? Quando se morre, oras. A percepção do senso comum é, mais ou menos, de que a morte começa com a suspensão da vida. Será? Eu diria, e posso parecer pessimista com isso, que a morte começa quando o espermatozoide encontra o óvulo. Ali, no momento em que as células começam a se reproduzir, seguindo o código-fonte da vida, começa o processo de morte. E justamente no instante da fecundação que, numa concepção aristotélica, começa a corrupção da matéria.
Platão dizia que as ideais existem antes num mundo separado da realidade, o mundo das ideias. Lá as ideias existem na perfeição e são incorruptíveis, ou seja, eternas. Cá, no mundo das sombras, dentro da caverna, as coisas são meras aproximações, cópias mal feitas das ideias perfeitas. Aqui, dentro da caverna, tudo se degenera, inclusive a vida.
Vida e morte são aspectos de uma mesma coisa: a nossa finitude. Otimistas dizem que o copo está meio cheio; pessimistas, que está meio vazio. Se é a vida ou a morte que começa com a fecundação, isso é uma questão de perspectiva e, ai sim, é que Six Feet Under nos permite filosofar.
A morte é um problema para quem fica. Lidar com a dor, o sofrimento ou, contrariamente ao senso comum, com a alegria e o alívio são questões abordadas na série. A dimensão psicológica da vida humana se fragmenta nos dilemas cotidianos das personagens. Mas a série não fica apenas no psicológico. Questões sociais tais como o capitalismo selvagem que corporativiza tudo, inclusive a morte; os preconceitos de raça e gênero, bem como o (des)equilíbrio dos relacionamentos são tratados.
A série me agrada pela diversidade de contextos. Da adolescente perdida na profusão de possibilidades que o ingresso na vida adulta oferece, à matriarca que redescobre essas mesmas possibilidades perdidas, a série desfila um rol de personagens complexos e, de certo modo, apaixonantes. Não é difícil se reconhecer em uma ou outra situação encenada nos episódios nem mesmo deixar escapar uma ou muitas lágrimas como bem profetizou a Larissa, quando me indicou a série. (E aqui eu abro um parenteses! Sim, homem também chora!)
Agora vamos falar um pouquinho sobre a morte. Morrer é, ao mesmo tempo, um processo biológico ao qual estamos todos fadados e um processo psicossocial regido pelas mais diversas concepções culturais. Encaramos a morte como dor e sofrimento ou alegria e alívio conforme fomos educados em nossas culturas. Lidar com a morte é uma experiência que somente os vivos podem exercer. Com exceção ao discurso charlatanista de um bando de oportunistas, ninguém sabe ao certo quando vai morrer. Fortuna, a deusa romana da sorte, através de sua roda decide os destinos dos vivos. Numa interpretação mais científica, o caos, o acaso é a força que move a roleta russa (desculpe o trocadilho Nikolai) da vida. Morremos um pouco a cada momento. Nascemos para isso, para morrer.
Calma, não fique assim tão angustiado ou angustiada. Six Feet Under, ao seu modo, mostra que diante da morte só há uma escolha: viver. Na verdade, diante da morte há um séquito de escolhas: como viver a vida. E aqui é que se encontra mais uma riqueza da série. Cada personagem, dos fixos aos itinerantes, mostra uma perspectiva de como viver. Se elas são boas ou más, se são as melhores ou piores, eis o domínio da filosofia, saber o que é o bem e o mal é uma questão pra lá de complexa e, nesse sentido, a filosofia só pode te ajudar a compreender suas escolhas, assim como Six Feet Under pode apenas te mostrar que os seus dilemas são os dilemas de milhares de outras pessoas…
É, se você chegou até aqui, saiba que não há formula mágica. Fortuna, a deusa, esta lá, girando sua roda caótica. E você, vai fazer o que hoje? Pois pode ser que amanhã eu te veja no seu velório… ou o oposto!
* Nota: Larissa foi minha aluna por uma ou duas semanas ainda no ensino médio, suas escolhas a levaram para outros rumos, mas por conta das tecnologias da informação, sempre estivemos, de alguma forma, em contato. Embora meu contato com a Larissa seja muito mais virtual do que presencial, ainda assim eu a considero uma boa amiga e (momento jabá) uma ótima designer de interfaces! Confira.
Werner Heisenberg, físico alemão, formulou o princípio da incerteza, uma das grandes contribuições para o desenvolvimento mecânica quântica no início do século XX.
De forma muito simplificada, o princípio afirma que não é possível medir simultaneamente a posição e a velocidade de uma partícula. Quando se mede um, perde-se a precisão da medida do outro. Dai a incerteza. Apesar de ser um entusiasta da física teórica, a física acaba aqui.
Deslocamentos são práticas comuns na filosofia… se deslocarmos a incerteza inerente ao princípio formulado por Heisenberg das partículas para nossas vidinhas cotidianas, veremos que também somos regidos pela incerteza.
Apesar de algumas pessoas confiarem dogmaticamente nos desígineos de uma ou outra divindade qualquer, acreditando que tudo está traçado e definido, a verdade é que não temos certeza de nada!
David Hume, um grande amigo meu, na sua epistemologia dizia que confiamos que certas coisas tornarão a acontecer mais por força do hábito que pela certeza (ou decorrência lógica). Trocando em miúdos, o fato do sol ter nascido todas manhãs nos últimos 37 anos não me dá base epistemológica nenhuma para afirmar com 100% certeza que o mesmo ocorrerá amanhã.
Hume usa o exemplo das bolas de bilhar. Prevemos a trajetória de uma bola que recebe o impacto de outra simplesmente porque vimos isso acontecer antes, mas fosse o caso de nunca termos presenciado um jogo de bilhar, não poderíamos afirmar que o impacto de uma bola sobre a outra produziria movimento .
É o hábito que nos dá a sensação de certeza. Vejam Desmond Hume, personagem de LOST. Ele ficava digitando sequências numéricas em um Apple II a cada intervalo de 109 minutos, sob o risco de explodir a ilha caso não o fizesse. A semelhança de um Hume com o outro não é coincidência, menos ainda a de um certo Locke colocar Hume (o da ilha) em dúvida.
Ok, acordamos hoje. Qual a certeza de acordarmos amanhã cedo? Nenhuma. Esperança talvez. Certeza, só com base na fé, que ainda assim, vem do hábito. Hume é foda! Heisenberg idem.
Sei que viver na corda bamba é difícil. Nada como a boa e velha segurança de que tudo vai seguir como sempre seguiu… balela! Wake-up Neo!!!
A vida é incerta quântica e filosoficamente falando. O hábito nos conforta e, quando desestabilizado pelo acaso, nos aflige. Saber disso não torna a vida mais fácil, mas menos misteriosa.
A única certeza é que tudo é incerto. Acostume-se a isso!
🙂