Ocasionalmente me pego em questionamentos típicos, pelo menos penso que sejam típicos nas outras pessoas também, como qual o sentido de tudo isso? E, por tudo isso, quero dizer a vida em si.
Na maior pate do tempo acredito que eu esteja no comando desta nau, mas… e sempre tem um mas, por vezes me parece que apenas sigo o sabor do vento ou as rotas das correntes oceânicas. Enfim, e sem metáforas (preciso parar de assistir House M.D.), as vezes me parece que não controlo nada nisso que chamamos vida.
Quando nos perguntamos qual o sentido da vida, talvez fosse melhor perguntar se ela precisa de um sentido. Eu já superei a necessidade dos mitos, assim, os caprichos divinos de algum deus, deusa ou deuses não me assombram. A vida é algo maior que as fantasias que os homens criam para explicá-la e não vejo a menor necessidade de delegar aquilo que eu não compreendo a uma entidade imaginária (e se o fosse fazer, escolheria algo mais divertido que um deus barbudo e rabugento que clama por atenção, talvez o Garfield seja mais legal para esse propósito).
A necessidade de dar sentido às coisas, por vezes, beira ao absurdo. Hoje, ao passar por um corredor em um dos meus locias de trabalho, corredor este que termina um vão bastante baixo para o meu padrão de altura, um vão de cerca de 1,70m. Com meus 1,90m, sempre tenho que abaixar minha cabeça e curvar um pouco o tronco para passar por esse vão. Bom, eis que hoje ao fazer esse movimento de me abaixar, ouvi uma pessoa, que vinha atrás de mim, dizer: “deus sempre dá um jeito de nos fazer curva diante dele”… Juro, eu repirei fundo, contei até 5, e continuei andando sem dar atenção ao estapafúrdio comentário. Mas isso ficou na minha cabeça…
Oras, um suposto deus precisou, de alguma forma, que houvesse um vão de porta menor que a minha estatura para que eu me curvasse?! E, ainda supostamente, ele deveria estar lá à espreita, para me ver fazer isso e, na sua santa megalomania, crer que eu me curvei “para ele”? Rapaz, a necessidade de dar sentido às coisas na mente de pessoas como a dona do brilhante comentário me espanta. Imaginar que a arquitetura do edifício todo foi orientado para que os que passam por aquele corredor “curven-se ao todo poderoso deus” é um sacrossanto chute-no-saco. Sem contar que, esse estratagema divino isenta da “curvatura” os de estarura abaixo dos 1,70m! Vá entender…
Voltemos ao sentido da vida, ou a sua falta de… eu dizia que em alguns momentos, penso que não tenho o controle, na verdade, é mais uma ausência de controle deliberada, algo do tipo “que vá… veremos no que dá!” Assim, não se trata de uma impotência frente à vida, mas um displicência em relação a ela. Ei, displicência é um bom termo, mas creio que o que eu quero dizer é que certas vezes, me sinto não levando a vida muito a sério.
Quando atribuímos à vida um sentido categórico, viver se torna um fardo. Se não atribuímos sentido algum, viver se torna desnecessário, e não é disto que eu estou falando. Não creio que a vida não mereça ser vivida, apenas penso que, dentre as formas de vivê-la, aquela que não espera dela grandes significados é a que, no final das contas, te dá maior satisfação (mas não o seu dinheiro de volta!)
Esperar grandes significados da vida é sofrer. Eu não estou neste mundo para ser um messias, herói ou o salvador da pátria. Não espero salvar as baleias ou a camada de ozônio. A vida flui apesar de tudo. Não estou aqui dizendo que devemos então matar baleias ou usar CFC até o planeta virar um microondas… só creio que não exista um propósito maior na vida humana que o dos extintos dinossauros. É triste, mas apesar do inúmeros sentidos que possamos dar à vida, um belo dia ela acaba e “babau”, já era.
Simples demais? Pode ser, mas eu vivo bem assim.