Apenas uma crônica.

Ao lado da biblioteca municipal há um parque, desses que pais e mães levam seus filhos para brincar. Roda-roda, balanços e até uma centopeia estão à disposição dos pequenos. Eu sentei-me num dos bancos, mas o sol de dez horas começou a incomodar-me. Avistei, bem ao centro do parque, vários bancos sob uma frondosa árvore. Não sei dizer que árvore era aquela, não entendo nada de árvores.

Não havia crianças. Num dos bancos, próximo ao lago, um casal se pôs a conversar. Entre uma crônica e outra, meu olhar se perdia no horizonte. Ao fundo, o som dos carros que trafegavam na avenida. Próximo a mim, o canto de um ou outro pássaro. Na verdade, tratava-se mais de seus piares que de seus cantos, mas, assim como de árvores, nada entendo de pássaros.

Eis que, mesmo sob aquela caridosa árvore, os raios solares das onze horas começavam a fritar minhas pernas. Troquei de banco. Nele havia um par de chaves, soltas e esquecidas, propositalmente ou não, sobre a madeira. Recolhi as chaves e busquei outro banco, visto que aquele apresentava demasiadas marcas deixadas pelas aves que lá gorjeavam.

Durante não mais que cinco minutos, fiquei confabulando que portas aquelas misteriosas chaves abririam ou, talvez, quais segredos escondiam. Retomei o livro de crônicas e pus-me a rir feito tonto com uma delas, de Ignácio de Loyola Brandão, a que tratava do caso das calcinhas no cinema… imaginei a cena no cinema do shopping, seria hilário.

Um casal de patos resolveu dar o ar da graça, ou seria uma dupla? Sei lá, também não entendo nada sobre patos. Me olharam de soslaio, atraídos pelas minhas risadas talvez. Talvez pensaram que eu lá teria um pedaço de pão ou algo que o valha. Continuei a ler e eles, o casal ou dupla, foram patear por outras bandas.

Já era quase meio-dia. Fechei o livro, olhei novamente ao meu redor e, com aquele par de chaves nas mãos, segui o caminho até onde havia deixado o carro estacionado. Próximo ao lago, imaginado o passado daquelas chaves, resolvi dar-lhes um destino. Enquanto dizia ao vento “que esta sirva para fechar o ano que se finda e esta outra me abra novos caminhos para o ano que se inicia”, lancei ambas nas águas do lago.

😉

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2 Respostas to “Apenas uma crônica.”

  1. Helen Says:

    “Viver ultrapassa qualquer entendimento.”
    Feliz últimos dias do ano.

  2. rafaelgimenesnet Says:

    Fez bem, eu faria o mesmo!

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